Ela é uma presença firme no palco. Alice Ruiz é uma artista das letras. Em sua passagem pela 18° Feira do Livro de Ribeirão Preto, no dia 21 de maio, a autora falou de arte, literatura, feminismo e política. Confira um pouco da conversa dela com o público do evento.
Poeta e haikaista. Tradutora e compositora. São 21 livros, diversos
prêmios e letras de músicas compostas e gravadas. Começou publicando seus
poemas em jornais e revistas culturais e durante a Ditadura Militar driblava a
censura escrevendo em revistas femininas de vanguarda em Curitiba, PR. Nesta
época, ela também se aventurou a produzir HQs. Um dos trabalhos de destaque na
afronta aos Anos de Chumbo virou livro em 2015, a coletânea de HQs eróticas
“Afrodite”, com obras de Alice e o poeta Paulo Leminsk, com quem foi casada.
Na
década de 80 lançou o livro Navalhanaliga e logo depois, a obra Pelos Pêlos. Em
1989 ganhou o Jabuti de Poesia, de 1989, pelo livro Vice Versos e o Jabuti de
Poesia, de 2009, pelo livro Dois em Um.
Mulher hoje na literatura
Não
sei dizer como anda o mercado editorial, pois não circulo muito, só produzo.
Mas estou vendo muito mais mulheres produzindo, estão escrevendo mais. Há pouco
mais de 100 anos a maioria de nós era analfabeta, pois não nos era permitido
estudar. Considerando isso, hoje já temos essa quantidade e qualidade de
produção feminina... A gente arrasa! Somos boas escrevendo, estão pipocando no
mundo inteiro escritoras maravilhosas. Existe sim um movimento do retorno da
mulher para a casa, de “bela, recatada e do lar”. Estão tentando realmente
reprimir, fazer com que sejamos “mulher boneca” sem igualdades, mas... Tarde
demais, não vão conseguir. A gente tem muito a conquistar ainda enquanto
mulheres que escrevem, pois mesmo sendo brilhantes ainda temos menos espaço na
crítica.
Voz das mulheres ontem e hoje
Acho que o que melhorou foi por nossa causa. Nos últimos 50 anos tivemos mais acesso à cultura, entramos para o mercado de trabalho e nos envolvemos objetivamente com questões do mundo. Isso fez com que pudéssemos dizer mais. O fundamento de uma Ditadura é a misoginia e a intolerância a qualquer coisa que não seja masculino, branco e velho. Qualquer coisa que não seja isso é discriminado e violentado. No caso da mulher acho que é sempre intencional que se tente coibir e limitar a mulher por um motivo básico: mesmo hoje com os homens sendo mais participativos no cotidiano familiar e nas relações com os filhos, ainda o principal da carga de trabalho de criar as crianças fica com a mulher, então como é que você faz para criar pessoas submissas? Você pega a pessoa que é o exemplo para as crianças e oprime, ou seja, meninos e meninas crescem com um modelo de opressão. É assim que eles se colocam no mundo, as meninas oprimidas pelos homens e os homens oprimidos pelo sistema. Interessa ao sistema que a mulher esteja oprimida porque assim o sistema oprime os homens também, isso é muito claro para mim.
Foto de Danilo Marques/Divulgação Oficial |
Artistas e posicionamentos políticos
Criar é um ato político, a arte é política por si só, mas não acho que ela deva estar a serviço da política. Quando você cria intencionalmente algo pensando “agora eu vou criar um poema sobre a questão política...” você está fazendo má poesia e má política. Colocar a poética a serviço da política prejudica os dois, pois a verdadeira poética é naturalmente política e subversiva porque faz pensar, questionar e olhar de um outro jeito para as coisas. Isso é político. Quanto ao artista, é o mínimo que se espera dele: que tenha posições claras. O artista é um porta voz de sua época, de movimentos, de sentimentos e pensamentos. Esse é o papel do artista, então que tipo de porta voz um artista será se ele não se posiciona ou se envolve com o coletivo e suas preocupações? Então... (suspira) Primeiramente Fora Temer e Primeiramente Lula Livre!
Foto de Danilo Marques/Divulgação Oficial |
Feminismo
Quando
eu vejo aquela coisa ridícula das pessoas de colocar o machismo como o
contrário de feminismo... Acho que é de uma ignorância absurda sobre o que acontece efetivamente com
nossas vidas. O feminismo é a favor da equidade e da libertação dos indivíduos de um papel “congelado”. O machismo é um pensamento e mecanismo que
oprime a sociedade através do modelo da mulher oprimida. São coisas muito diferentes.
Criar
Enquanto
a gente está disposta a começar alguma coisa a gente não envelhece. O corpo
pode envelhecer, mas tem uma chama lá dentro que continua jovem e faiscando
porque começar alguma coisa é sempre vida. Mantém a verdadeira juventude que
nenhuma plástica dá, a juventude do fundo do coração. Eu tô louca para começar
a cantar, compor, tocar um instrumento. Talvez seja um pouco demais né. Os
japoneses passam a vida aprendendo uma só coisa e eu querendo várias depois dos
70 rs, mas tudo bem, pelo menos uma
delas talvez eu faça, que é cantar.
Foto de Danilo Marques/Divulgação Oficial |
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