7 de agosto de 2014

VNBOYZ: Eles escrevem (e cantam) o rumo da própria história

Foto: Coletivo Fuligem
Eles são meninos comuns. Talvez já tenham responsabilidades de homens, mas o sorriso nos olhos ao falar dos sonhos é o mesmo de meninos que se conheceram na infância brincando na rua. Wallace trabalha e cursa arquitetura numa faculdade particular, mas trancou o semestre para ajudar a namorada a cuidar do bebê que vem por aí, o primeiro filho dos dois. Alexandre estuda veterinária na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), é um dos “filhos do Enem” e das políticas públicas que democratizaram o acesso e a permanência dos jovens da periferia nas universidades federais. Edson, o Prince, já sonhou ser jogador de basquete, participou de grupos de pagode e hoje trabalha para manter-se e ajudar a família.

Se não fosse a relação com a música, eles seriam só mais três jovens que batalham para mudar de vida. Sim, eles já fazem isso. Mas a paixão pelo RAP e o HIP HOP faz com que Walace, Alexandre e Edson sejam também Bira, Alê e Prince, os caras e “a cara” da banda VNBOYZ.

Eles tem pouco mais de 20 anos e nasceram e cresceram na “Califórnia brasileira”, Ribeirão Preto, São Paulo. O lugar que eles vivem, enxergam e cantam talvez tenha mais cara de Brasil do que de Califórnia, é “o contraste na fronteira entre a favela e a burguesia”, a Zona Sul da cidade. 

Eles são da Zona Sul, da periferia da Zona Sul. Moram no Jardim João Rossi, um conjunto habitacional de apartamentos localizado em meio às luxuosas avenidas que caracterizam a região como “área nobre”. Nós nos encontramos num famoso shopping da cidade, que fica perto da casa deles e perto da casa de grande parte dos clientes que passam por ali. É desses aspectos do cotidiano que surgem as letras do grupo. Não só desses, mas de todos que tem a ver com a vida deles. Nessa mistura está a desigualdade social da cidade, a ostentação da elite, a vida em família, a importância da amizade, o amor, o sexo e até a fé faz parte do universo cantado por eles. 

Foto: Marcus Caetano
A história de vida dos três se confude. Se confunde com a de vários garotos por aí e se confunde entre eles mesmos. Eles não vieram de famílias parecidas com as de comercial de margarina. Mas a semelhança do valor que dão ao que aprenderam ser com a família que tiveram é a mesma. Em vários momentos citam situações em que os pais ou familiares foram importantes para tomarem decisões na carreira que se constrói. 

Anos atrás, o que hoje podemos chamar de carreira, era a brincadeira preferida deles. É claro que existe aí a influencia daquele tio que já ouvia Racionais, o vizinho que escutava o som no volume máximo ou as rodas de capoeira que se transformaram em interesse pela dança de rua. Mas é fato que, o RAP e os elementos da cultura HIP HOP vem do próprio ambiente em que cresceram. São os estilos musicais que estão presentes na periferia porque representam o dia a dia dela. 

A vontade de mostrar quem eram e como viviam era maior que a dos outros meninos comuns, então surgiu a VNBOYZ. A banda chamou minha atenção porque revelou Ribeirão Preto como poucos artistas locais fizeram ou ousam fazer. ''Califórnia Brasileira" é o primeiro clipe produzido profissionalmente, foi lançado em 2012 e hoje já tem quase 20 mil acessos no youtube. O último hit é "Apenas um olhar", e já possui mais de 10 mil acessos em apenas dois meses de lançamento.

Os números demonstram que o grupo de adolescentes que gravava áudios no celular e editava no próprio computador, cresceu e apareceu. Eles ainda mantêm o sonho com o próprio bolso e a ajuda de amigos que fazem desde a figuração em clipes até a pós produção e divulgação nas redes sociais. “É a grande família que empurra a VNBOYZ”, diz Bira.
Bira, Prince e Alê -Foto: Marcus Caetano

Impulsionados e com as próprias pernas, eles caminham. Caminham para o sonho de viver de música, caminham para melhorar a própria vida, caminham para sair do lugar. Onde esses passos vão chegar? Não sei. Mas uma coisa é certa: essa trajetória já tem trilha sonora oficial, VNBOYZ.


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